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“Quem não aprende no amor, aprende na dor”

“Quem não aprende no amor, vai aprender na dor…” Já dizia Dona Maria, minha querida Avó, que completou seu ciclo neste plano, 2 anos atrás.

E qual a relação desta fala com o atual momento do País?

É impressionante, mas essa frase nunca fez tanto sentido, como está fazendo agora.

Em um momento de pandemia de proporção mundial, onde “do nada”, aparece um vírus, que vem lá do outro lado do mundo e abala simplesmente toda a saúde pública, economia e consequentemente a vida de todos, sem qualquer tipo de exceção, segregação ou discriminação. Não tem essa de rico, pobre, branco, negro, católico, macumbeiro, vegano, carnívoro, coxinha, “mortandela”, corinthiano, palmeirense. Está todo mundo na reta amigo.

O fato é que mesmo já tendo passado por outras epidemias e surtos (Gripe espanhola, Gripe Suína, Gripe do Frango), nós insistimos em aprender na dor. Ok, mas aprender o quê, se pensarmos que não temos como evitar o surgimento de um novo vírus. A história mostra.

De 1918 a 1920, estima-se que a gripe espanhola matou mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo (Fonte: Uol.com.br). Na época, o Brasil sequer tinha um Sistema de Saúde Pública estruturado. Não tínhamos tecnologia e o número de leitos era infinitamente menor do que temos hoje, ou seja, a 100 anos atrás o mundo já sofria com uma pandemia de gripe. Não é novidade para ninguém. E qual o aprendizado? Minha avó dizia que cama e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Mas o fato é que ficou notório que um sistema de saúde pública se fazia necessário no país, e, a quem diga que pós pandemia da gripe espanhola, foi plantada a semente do SUS, que seria criado, alguns, vários anos depois, em 1988.

Já com um sistema de saúde bem estruturado, sobrevivemos de maneira menos sofrida, embora preocupante, aos surtos de Gripe Aviária, em meados de 2005 e da Gripe Suína, em meados de 2009. E qual o aprendizado tivemos com estes surtos. Muito pouco. A necessidade de campanhas de vacinação contra a Gripe, se fez indispensável, e o Brasil, que mesmo com todas as dificuldades, por meio de políticas públicas de saúde e campanhas de vacinação, conseguiu controlar inúmeras doenças como Poliomielite, Sarampo, Rubéola, etc., mas ainda sofre com a resistência de algumas pessoas que insistem em não vacinar, principalmente crianças e idosos.

Chegando aos dias atuais, em época de pandemia do COVID-19, o famoso Corona vírus, continuamos sofrendo, exatamente como nossos avós, porém, com muito mais recursos e informação do que 100 anos atrás.

Vivemos a era digital e temos um oceano de tecnologias, que insistimos em não explorar sua potencialidade. Pegando apenas um exemplo. A TELEMEDICINA, que na atual situação, teria poupado a saúde de muita gente, principalmente a contaminação dos profissionais de saúde. O que falta para colocar em prática? Continuamos aprendendo na dor. Insistimos em usar a tecnologia de maneira fútil. Nas redes sociais, propagamos muito mais as “Fake News” do que informações úteis. Propagamos muito mais nosso ódio político do que serviços de utilidade pública. Chegamos ao absurdo de fazer campanha contra a vacinação, trazendo de volta o risco de doenças praticamente erradicadas. Continuamos aprendendo com a dor.

Na era da informação, vivemos um surto de desinformação. Hoje as informações, sejam elas verdadeiras ou fakes, chegam em uma velocidade assustadora, mas o conhecimento não acompanha a mesma velocidade. 400 milhões de pessoas perdem tempo para votar em quem deve sair do BBB, mas resistem em fazer campanha para não sair de casa.

Veículos de comunicação e Governo, tem parte da responsabilidade sobre como estamos cuidando destes surtos, porém a grande fatia do bolo, está na mão do povo. Precisamos mudar nossa cultura imediatamente. Não podemos mais somente aprender na dor. Precisamos aprender a pensar coletivamente. Bares e praias lotados não são culpa do governo, é culpa da nossa cultura individualista. A 2 anos atrás, escrevi um artigo que fazia a seguinte pergunta: Transformação Digital, Transformação Cultural ou Transformação Pessoal? Acho que hoje esta pergunta está respondida claramente. TRANSFORMAÇÃO CULTURAL.

Transformação da nossa cultura de só aprender com a dor, como dizia minha Avó. Transformação da nossa Cultura de não aproveitar o máximo das potencialidades tecnológicas. Cultura da procrastinação.

Mas tudo tem um lado positivo. Como sempre, sobreviveremos a esta pandemia. Infelizmente pessoas morrerão. Nosso Sistema de Saúde, que apesar de muito criticado, está se mostrando muito eficiente, aliás, eficiente como nunca. Vejam que em poucos dias, o DATASUS criou um App Mobile com todas as informações possíveis sobre os desdobramentos da pandemia do COVID-19. Vários outros sites também dão informações em tempo real, por exemplo, (https://www.bing.com/covid).

Dá para fazer, só precisa de boa vontade. Da para fazer mais do que app de comida ou de transporte compartilhado. A saúde clama por tecnologia.

“Bora se cuidar minha gente”. Fiquem em casa, usem álcool gel, evitem beijinhos e abraços. Não subestimem os riscos, mas também não disseminem o pânico. Comprem menos papel higiênico.

Seguindo os ensinamentos da minha avó, com uma pequena adaptação: Repouso, Canja de Galinha, Netflix e Álcool Gel, não faz mal a ninguém.

Em tempo, essa é minha querida Avó… quanta saudade…

*Felipe Colucci é diretor de operações da ABCIS. Com 15 anos de experiência, atuando em vários players do segmento de saúde como, Graduado em Administração Hospitalar pela São Camilo, MBA em Gestão Executiva em Saúde pela FGV e MBA em Gestão de Tecnologia da Informação pela FIAP, atualmente ocupa o cargo de Gerente de Negócios para o Mercado Público na Philips EMR Brazil.

 

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